sábado, 2 de agosto de 2008

Carta a um Fumante


Caro AMIGO HILTON OSCAR de SOUZA CRUZ,

Desde que TE vi, da última vez, com a turma do Green PEACE, no POLO CLUB KING EDWARD, na AFRICA, quando estavas ainda no COMMANDER de sua CLASSIC inteligência, gostaria de ter CRUZADO contigo para TE dizer: deixe esse teu temperamento LATINO, esse teu sangue KENTS e essa FAMA de FREEBOY, PARKER não estás em um RODEIO e essa vida de SULTÃO, com sua ODALISKA, ou de IMPERADOR, no comando do COLISEU não TE faz bem. Tome uma decisão inteligente, digna de um CAMPEÃO de fórmula INDY, MARK 10 pontos a favor da vida. Sei que MERIT ULTIMA chance, pois a vida não é uma LOTO. E toda a GALERA SABRE que já gastastes a tua FORTUNA no JOCKEY CLUBE e o que TE resta não é mais ONE CENTURY do que era e agora só CABIN numa MI-NE ROCKET. Sei que já não freqüentas mais o ALFA CLUB, em ASPEN, nem curtes mais SAX com teu amigo WINSTON DAVIDOFF, no SALEM IMPERIAL, nem mesmo arriscas um LUCK STRIKE com o BRILIANT CAPTAIN BLACK, em MONTE CARLO. Hoje os tempos são outros, PALL MALL SOBRANIE dinheiro para pagar o bilhete do BOND, ou tomar STATE EXPRESS no café NAZIONALI. Até mesmo sua ALLIANCE e seu CARTIER preferido estão penhorados no Banco ROTHMANS, na ANTICHI TOSCANI. Já não fazes mais parte do círculo social da VOGUE. DUPONT de vista financeiro a MAGNA FUSION de tua empresa com a MS BARCLAY e a TOSCANELLI, em ASTORGA, não teve o menor LEXUS. Não TE esqueças de que não és mais aquele que freqüentavas PAGODE, na VILA RICA, do velho WEST, com o CAWBOY BILL e a Carla MURATTI, ou fazia aquele FREVO, no SHELTON com a drag QUEEN VIRGÍNIA VICEROY, no tempo do TETRA, enquanto deverias STAR estudando em CAMBRIDGE ou em BRISTOL. Mostre que sabes o que quer e levas vantagem em tudo. Deixa de CAPRICHO e sai deste país CONTINENTAL. Veste tua roupa BASIC, e, a la PETER JACKSON, pegue um CORCEL, um GALAXI LS, ou um MUSTANG, vai para o aeroporto e toma o primeiro avião com destino à HOLLYWOOD, CALIFORNIA. Chegando lá, não dês uma de PALERMO, como um torcedor do CORINTHIAS. Não percas TEMPO, contacte logo um motorista FREE lance, dirija-se ao PLAZA LUIZ XV, no edifício ARIZONA, à BOND STREET DAYTONA, F6, esquina com Av. HAITI, e procure IOLANDA L & M de BELMONT, a secretária do Dr. CARLTON. ELLA, com muito CHARM, TE encaminhará ao médico. Deixe que ele ALPINE. Após uma simples consulta, ele TE dirá: __LARK tudo o que faz, o seu estado de saúde é o RIVER, nem mesmo uma MISTURA FINA ou CAMEL curará seu MARBOLRO. Por causa dessa doença, DERBI ir até SAINT JAMES de CAPRI, à Rua PHILLIP MORRIS, R1 próxima ao consulado da MACEDÔNIA. Ao entrar no PARLIAMENT, no edifício RITS PALACE, procure o MINISTER da saúde BENSON & HEDGES ou o CHANCELER YVES SAINT LORAN. VANGUARD um momento, ele TE providenciará um eterno fino que satisfaz de LUXOR ou um SUPER FINO, que TE custará US MILD DOLAR. E nem adianta rezar a SÃO DIEGO, porque tu estás mesmo é com câncer de PULLMAN.

Ass. JONH PLAYER SPECIAL

DALLAS, 20-08-2007
3º MILÊNIO


Publicado no Jornal de Uberaba- Coluna Opinião em 21-01-2008.

Ormezinda Maria Ribeiro - Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

Doces Lembranças


Em sua festa de quinze anos, Amandita teve uma grande surpresa, ganhou um anel de ouro branco com um enorme diamante negro, de seu tio Alpino. Estava irradiante. Na noite anterior tinha rolado um lancy com o garoto que ela gostava: o Chockito. Ele havia feito uma serenata de amor, deixando-a tão apaixonada que ela só pensava em pedir biss, dinovo, outra vez... Esse Traquinas tinha talento nato para a sedução. A sensação da festa foi o batom rosa choque que o Lolo inventou de passar para fazer todos caírem no samba e na gargalhada, com muito confeti e serpentina. Os mais velhos preferiram dançar shot. Foi algo surreal. No momento da dança, foi como se houvesse um feitiço: o seu tão esperado sonho de valsa tornou-se realidade. Pôde dançar sem parar com os amores da sua vida. “Alô doçura, acorde” assim foi despertada desse sonho crocante... Havia muitas personalidades de prestígio na festa. Entre elas o diplomata Ferreiro Rocher, que veio do Hawai, exclusivamente para sua valsa. O noblesse conde de Montevérgine, Vito Branco D´Orleans. Além de muitas madames cheias de mania e de fricote, como a Gardênia Moon, uma cantora de opereta, que só bebia chocoloko, uma espécie de bebida de chocolate com vodka. A Milka Charge, atriz do Caribe, acompanhada de seu noivo, o Brigadeiro Kinder Bueno. Esses bebiam rum como se fosse água, e uma moça engraçada, da qual não me lembro o nome, pois era chamada por todos de Lacta Joy. A cantora Candy Toblerone também estava lá e brindou a todos com uma maravilhosa sonata ao luar. Ainda bem que a Chandely Crunch Toffees, aquela patricinha que não desgruda de seu poodle Rex, e certamente usa Trident, não apareceu com seu namorado Torrone Nougat. Mandaram apenas kisses. A festa se encerrou com um milkbar servindo deliciosos chocolates Galak, Sulflair. Ainda hoje ela se recorda desses doces momentos de alegria e diversão. São lembranças que trouxe agarradas à memória como chiclets.

Artigo publicado na coluna “Opinião” Jornal de Uberaba, em 23-05-2007.


Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Uma história pra boi dormir


Cansei de atirar pérolas aos porcos e dar com burros n’água. Foi-se o tempo de vacas gordas em que vivia cercado de amigo-da-onça. Depois que cai no ostracismo só recebi abraço de tamanduá. A vaca foi pro brejo. Somente uns gatos pingados ficaram ao meu lado para o canto do cisne. É triste admitir, mas falhei e estou pegando touro à unha, matando cachorro a grito. Sei que não devo pagar o pato sozinho, mas o que posso fazer? Deu zebra! Julguei que tivesse olhos de lince, no entanto, fiquei em papos-de-aranha depois que decidi construir aquele elefante branco. No início, fiquei como quem viu passarinho verde, paguei o maior mico. Com raciocínio de ameba não percebi que estava me envolvendo com cobra criada, aquela cascavel! Deveria ter picado a mula em tempo. Trabalhei como camelo, e na hora da onça beber água, saí que nem cachorro magro, feito pinto molhado. Quem mandou amarrar cachorro com lingüiça! Na verdade, comprei gato por lebre, quando pensava que iria lavar a égua. Qual nada! Servi de cobaia para um mão-de-vaca, um lobo em pele de cordeiro, que me fez de bode expiatório. O cabra da peste, filho de uma raposa velha, primeiro quis brincar de gato e rato, depois resolveu fazer boca de siri e chorar lágrimas de crocodilo, com cara de cachorro que caiu da mudança. Eu deveria saber: filho de peixe peixinho é! Em princípio fiquei feito barata tonta, depois amarrei o bode. Macacos me mordam! Tive vontade de soltar os cachorros, encarnar o grilo falante e dizer cobras e lagartos àquele verme e mandá-lo pentear macacos. De nada adiantaria ficar pensando na morte da bezerra. Mas na hora da porca torcer o rabo preferi tomar um rabo-de-galo, aquela água que passarinho não bebe, que me deixou com impressão de ter vários cavalos de potência. Ele gritou comigo feito uma gralha, e eu me calei, afinal, quando um burro fala, o outro abaixa a cabeça. Depois que vi que a cobra ia fumar me senti como um peixe fora d’água. Posso até ser burro, ou tonto como um asno, mas não sei fazer gato-sapato dos outros. Não tenho sangue de barata, mas não sou de matar a cobra e mostrar o pau para provar que sou forte como touro. Há um ditado popular do tempo do onça que diz que em boca fechada não entra mosca, então, pensei ser melhor não cutucar a onça com vara curta. Como sei que uma andorinha só não faz verão, não há proveito em procurar chifre em cabeça de cavalo. Infelizmente sou arraia miúda. Deste mato não sai coelho, pois certamente tem boi na linha e o mar não está para peixe. De nada adianta amolar o boi. Só vou cair do cavalo, se colocar a carroça na frente do boi. Não que eu não tenha nada a ver com o peixe, mas, mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Penso que o melhor é esperar a hora certa para matar dois coelhos com uma cajadada só. Afinal, os cães ladram e a caravana passa. Assim, achei melhor deixar cada macaco no seu galho. Hoje sou uma galinha morta, uma marmota da cor de burro quando foge. Com memória de elefante, é certo. Só não tenho estômago de avestruz. Isso não! Tenho fome de leão, mas me alimento como passarinho. Não como cachorro quente, nem que a vaca tussa. Sou mesmo uma formiga doceira. Mas voltemos à vaca fria: não vou mais ser boi de piranha, nem ovelha negra. Aceitarei de bom grado qualquer vaquinha que me fizerem, pois a cavalo dado não se olha os dentes. Prometo a mim mesmo e aos amigos que restaram, e até ao meu cachorro, o melhor amigo do homem, que, a partir de hoje, vou dormir com as galinhas, ainda que tenha que contar carneirinhos. Vou matar um leão por dia, ainda que a passos de tartaruga, e juntar tudo que me espalharam, pois não dizem que é de grão em grão que a galinha enche o papo? Longe de mim agir como uma anta, ou consentir que sanguessugas, feito urubu na carniça, me façam de burro de carga. Gato escaldado tem medo de água fria e eu não vou permitir que nenhum cão danado venha cantar de galo no meu terreiro. Sapo de fora não chia e se a galinha que canta primeiro é dona dos ovos não vou ficar feito pingüim de geladeira ou bicho preguiça, vou fazer propaganda como uma mãe coruja em ninho de cambaxirra. Pode tirar o cavalinho da chuva quem pensa que estou derrotado, que sou uma mosca morta. Vou cozinhar o galo e dar o drible da vaca. Afinal, quem não tem cão caça como gato e macaco velho não põe a mão em cumbuca! E, olha o passarinho! Eu quero mesmo é fotografar a expressão do espírito de porco que pensa que essa história é só pra boi dormir.

Artigo publicado no Jornal de Uberaba, Coluna Opinião em 12-06-2007.

Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

Um passeio pelas gírias através dos tempos


Ainda garoto, levei uma taboa, nos idos de 1930. Eu era um almofadinha, pé rapado, liso que nem pau-de-sebo. Fiquei jururu. É fato, mas jurei me tornar um figurão abonado pra nunca mais ouvir uma ladainha daquela lambisgóia. Fiquei quase uma década me recuperando dessa malfadada sorte. Depois resolvi recobrar o tempo perdido e correr atrás de um brotinho, um chuchu que conheci em um desses balangandans que freqüentava na época. Convidei aquela tetéia para assistir a uma chanchada, a coqueluche do momento. Foi a maior fuzarca. O pai dela não gostou nem um pouco. Levei uma carraspana. Só me esqueci desse bafafá dez anos depois. Tomei um chá de cadeira sem igual. Não seria fácil paquerar aquela uva. Ela não se esqueceu do fuzuê. Eu já estava ficando coroa, mas ainda era pra frente e bacana paca, um tremendão. Além do mais, meu chapa, nos anos 60 eu não era nenhum pé de chinelo. Era um cara boa pinta, tinha um carango envenenado, um papo firme. Desses de fazer qualquer gata gamar. E uma coisa era certa não era pelego e nem cafona. Resolvi dar uma esticada e encarar uma boazuda. Estava a fim de uma gata barra-limpa e não era de mancar. Mas ela tirou onda no maior ziriguidum. Veio com aquele papo furado e eu, que estava naquela de pode vir quente que estou fervendo, curti a maior fossa. Mais 10 anos, Bicho, desisti da uvinha que a essas alturas já estava meio passada, um bicho grilo Não era mais um pedaço-de-mau-caminho. E eu anda era um pão. Não era de se jogar fora. Estava a fim de uma fofa. Numa boa, podes crer! Tentei fazer a cabeça dela. Que barra! Eu estava por fora. Ela não gostou da chacrinha. Entrei pelo cano. Foi chocrível: ela me chamou de goiaba e deu no pé. Já era. Enveredei pela política. Virei biônico, fiquei careta, o maior caxias. Deixei de ser aquele cara jóia que transava o amor no maior breu, curtindo adoidado. Nem tchum para as coisas do coração. Meu negócio era tutu, bufunfa, grana maneira. Entrei de bode nos anos 80, meio deprê, mergulhei naquele economês fajuto, preocupado com as patrulhas ideológicas, vendo a beleza passar no movimento daquelas minas de fio dental. Que massa! Como me senti brega! Chegaram os anos 90 e eu decidi acordar para a vida. Nas ruas, os caras pintadas faziam pressão. Já aposentado, por pouco levaria a pecha de boiola. As minas da minha galera viraram gastinhas. Embacei demais. Fiquei muito tempo pagando um sapo Vou entrar de sola em outra praia. Estou na área e vou lançar meu olhar quarenta e três, pensei. Antenado, quis deixar de ser um mala e parti para a azaração. Não queria mais queimar o filme. Descobri que ficar é o bicho. Chega de rolo e de encoleirar. Achei uma pitchula lipada e fui sintonizar o canal. Sou um animal. Estava convencido. Vestido como um mauricinho à procura de uma patricinha filé que me desse mole, fui chavecar. Não sou nenhum papa-anjo, mas resolvi jogar meu papo um-sete-um pra cima da primeira maria gasoza que me atravessasse. Estava disposto a liberar a verba. Que furo! Paguei o maior mico! Amarradão, encarnei uma ganzepa meio fubanga. A essas alturas da vida, Mano Brown, não poderia escolher muito. O que pode querer um velho rico e solitário? Também não estava a fim de nenhuma perua tranquera. Estava me sentindo assim fuderoso. Meio travado, entrei de sola, cheguei na popozuda. Escamosa, me chamou de tio sukita. O vacilão aqui ainda pensou que era elogio. Fiquei na pista. É mesmo o fim do século. Pirei na batatinha, quando um Lobão chegou de lado e mandou: “Ai, vei, valeu! Simbora que eu vou vazar com a cachorrona”. Aí já era demais! Outra táboa esse meu coração matusalém não agüentaria. Viajei no tempo... Fui!...

Artigo publicado no caderno "I", Coluna "Opinião", edição nº 6085 do Jornal de Uberaba, p. 02, dia 06/01/2007.

Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Gutemgerg e a Cidade Livre


Tudo começou quando Gutemberg era ainda um jovem ourives na Alemanha, no longínquo ano de 1438. De lá para cá muitas letras se combinaram a partir de tipos móveis de chumbos que esse clarividente alemão começou a ordenar.

Esse era O Amigo das Letras. Com sua descoberta, O Globo nunca mais foi o mesmo. Não seria mais preciso subir A Tribuna para dizer ao mundo o que acabava de acontecer nA Pátria, na Última Hora. Agora, tanto as Notícias da Cidade, quanto a simples Opinião dO Povo, ou A Crítica de um articulista desconhecido ou de um “Casper Libero” são dadas a conhecer a quem aprecia o resultado da junção dos tipos mágicos desse extraordinário ourives.

Depois dele, aos poucos, O Compilador Mineiro foi perdendo o seu emprego, disputadíssimo até os idos de 1820, nA Idade D´Ouro. Ofício para os mais privilegiados, não era coisa para qualquer Carcundão. Quem labutava na Lavoura & Comércio, sempre fazendo um trabalho Extra, sabe o que estou dizendo. Saber das coisas e ser O Imparcial, nA Província de São Paulo, não era para qualquer um. O Espelho Diamantino, de Pierre Plancher, refletia claramente essa dificuldade que deixava longe das letras as mulheres, tanto nO Estado de Minas, como nO Estado de São Paulo, ou mesmo nos demais Estados do Brasil.

Que o diga Violante Atalipa Ximenes de Bivar e Velasco, nO Jornal das Senhoras, (Jornal da Manhã ou Jornal da Tarde) um verdadeiro Reverbero Constitucional Fluminense, ao qual poucos davam uma Gazeta do Povo, em defesa do sagrado e indiscutível direito feminino de ler e de se informar.

Hoje, os tempos são outros, O Liberal, o conservador, O Observador Constitucional, o democrático, O Popular, homens e mulheres, podem freqüentar a Tribuna da Imprensa, sem necessidade de fazer Pasquim e correr o risco de ser taxado de Marmota Fluminense. O Correio Braziliense, o Correio Paulistano, o Correio do Povo, desde a Zero Hora, dO Dia, circulam Notícias Populares, livremente, do Oiapoque ao Chuí, do Farol da Barra, aO Farol Paulistano. Soube de tudo isso, porque tive o privilégio de ler um Diário Popular, um Diário da Noite.

Não sei se era um Diário do Pernambuco, um Diário do Rio de Janeiro, um Diário de Porto Alegre, um Diário de São Paulo, ou um Diário Catarinense. Mas, certamente, era um Diário Oficial do Brasil, que não tardou a virar um Diário do Governo. O Nacional, um Jornal do Brasil, para os brasileiros.

O que interessa é que o tal Gutemberg, esse homem de ouro, nem imaginava que das suas mãos sairiam as Folhas que libertariam tantas idéias, que fariam circular tanta riqueza, talvez mais preciosa que o produto da ourivesaria. E, infelizmente, tanta jóia falsa também! Mas, o que importa mesmo é que a Cidade Livre pode, pelas letras, no Jornal de Uberaba, libertar, como Sentinelas da Liberdade, o Chateaubriand que vive em cada um.

Nesse texto, escrito com os títulos dos principais jornais do Brasil, em circulação, ou já extintos, quero esboçar uma breve incursão na história da imprensa em nosso País.

Artigo publicado no Jornal de Uberaba, Coluna Opinião em 09-03-2007www.jornaldeuberba.com.br

Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

Os nomes que fazem o brasil, Brasil


Muitos sabem que nosso país se chamou Brasil pela coloração cor de brasa de uma madeira nobre, da qual os índios extraiam uma tinta vermelha para pintar o corpo, chamada em língua tupi Ibirapitanga. Hoje ameaçada de extinção, mas outrora tão comum nessa terra Brasillis. Brasil, terra de vegetal, de pedras preciosas e de muitas águas também. Terra Pappagalli, Terra dos Papagaios.

Esse foi o primeiro apelido que o Brasil recebeu, assim que o navio que levava a notícia do “descobrimento” retornou a Portugal, carregado dessa colorida e espalhafatosa ave, entre outras coisas exóticas para os lusíadas. Ave que vivia aos bandos em Roraima, o Rorô-yma, monte dos papagaios dos índios caribe.

Terra de Amapá, ou catauá. Árvore leitosa e medicinal usada pelos mesmos índios caribe, encontrada em nossas matas espessas, nesse Mato Grosso, do norte ao Sul, perto das desejadas Minas Gerais, abundante em ouro e outros metais. Tão perto dos guaiá, tribo que habitava a região que hoje chamamos Goiás. E tão distante de onde vem o Ciará “canto da ave jandaia”, Ceará, lugar de homens fortes e superiores, exaltados pela tribo cariri. Tão perto de Rondônia, do grande desbravador Marechal Candido Rondon, quanto das Amazonas, tribo de mulheres aguerridas.

Não menos guerreiras que as lendárias mulheres da Antigüidade, que amputavam o seio direito para melhor manejarem o arco. As “amazos” da terra Brasillis lembravam as mulheres sem seios, habitantes das margens do Mar Negro. Amazonas, nome dado às muitas águas, como também é Pará, rio caudaloso em tupi, que junta o Amazonas com o Tocantins, o “bico de tucano”.

Tucan-tin para os índios tupi, que viviam junto à foz desse rio. Brasil, terra de tantos rios, de um extremo ao outro, o Rio Grande do Norte, próximo ao Oiapoque, e o Rio Grande do Sul, canal que liga a lagoa dos Patos ao oceano, mais perto do Chuí. Rio, “parente do mar”, do tupi para´nã. Semelhante ao mar. Como Paraíba, rio pouco navegável, pa´ra aiba, ou mar ruim. De tão difícil acesso quanto o Maranhão, “corredeira” no dialeto nheengatu, mara-nhã, com origem no tupi mbarã-nhana. Certamente foram as corredeiras que, para a tribo tupi, fizeram o buraco nas pedras por onde passam as águas salgadas perto da Ilha de Tamaracá, em Pernambuco, o mar que arrebenta, para´nãpu´ka. “Na boca do rio Aquiri”, do qual deriva Acre, Uakiry, no dialeto ipurinã. Rio dos siris, no Sergipe, si´ri-´ y-pe, o rio das piabas, no Piauí: Piaba’y, entre tantas lagoas. Na terra de Alagoas.

Tanta água como uma Bahia, a Bahia da Guanabara, encontrada em primeiro de janeiro, e confundida com um imenso rio, um Rio de Janeiro. Assim como a Bahia de Todos os Santos, batizada com esse nome por ter sido vista em primeiro de novembro e comunicada ao rei de Portugal pelo italiano Américo Vespúcio.

Brasil de tanta devoção. Que, num domingo do Espírito Santo, criou a primeira vila, a Vila Velha, no estado que leva o nome de uma das pessoas da Santíssima Trindade. A mesma devoção que levou Francisco Dias Velho a erigir uma igreja em honra de Santa Catarina e graças a ela um estado que recebeu nossos irmãos açorianos.

Como também em honra a outro santo, o apóstolo São Paulo, foi fundada a primeira vila do planalto paulista, pelos lados de Piratininga. Tanta fé nesse Brasil, que o visionário Dom Bosco vislumbrou em seu árido e místico Planalto Central a nova capital. Brasil que gerou Brasília, construída pelos filhos desse Brasil de tantos nomes, de tantas águas, de tantas riquezas...

Brasil, nome de vegetal.

Artigo publicado no Caderno I Coluna "Opinião" do Jornal de Uberaba , p. 02, no dia 07/02/2007. www.jornaldeuberaba.com.br

Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br

Palíndromos: uma história para se espelhar



A professora de Anna e Natan ensinou na escola o que são palíndromos. O nome soou estranho, mas resultou em uma brincadeira. Vamos dizer que é uma divertida viagem de ida e volta na palavra ou na frase. Os alunos, curiosos matutam: como seria viajar nas palavras? Não vale rir. Erro comum ocorre: Iracema não é palíndromo. É anagrama de América. Assim como Célia é anagrama de Alice, Eliane de Elaine e Dariane de Ariadne. Aproveitam-se todas as letras, mas não se lê de trás para frente com o mesmo sentido.

Não é frase espelho, com perfeição na simetria, nem se parece com a “serpente que morde a própria cauda”, como o palíndromo. Até mesmo o sério lingüista Saussure embarcou nessa brincadeira. Para encantar mais a turma, a professora resolveu fazer um desafio: “ramo do temor prometo domar.

Chega de provas com pontos decorados. - A nota me vem à tona. Vamos explorar a criatividade, o ingresso no círculo mágico das palavras". “Como”- Perguntou um dos alunos: “Só sei que meu QI é SOS”. –“É só ir a vários lugares que nos dê sol e selos, Edson, e voltar pelo mesmo caminho das palavras e frases, percorrendo sua linearidade. E você eco vê nesse ir e vir com os olhos, passeando pelas letras que se juntam e se organizam como se quisessem, elas próprias, encontrar a sua cauda, como uma aliança que não tem início ou fim.

Escrever e ler por prazer, não por obrigação. - Só, nem menos, nem mais. Age, vá, navega! Como uma Alice curiosa, Mergulhe fundo no reino espelhado das palavras. Zarpar apraz. - Alie-se, sei lá. Atreve, reverta. Faça acontecer. Dê vida às palavras, dê forma à imaginação”. Os alunos, ansiosos, anotaram a data da maratona e cada um, com um radar, passou a embarcar nessa viagem, a rever cada palavra escrita, a reler, cada palavra lida, a fim de merecerem a vitória.

A ala mirim adorou a idéia. O treco certo! Aplaudiram Oto e Raul Luar. Nessa hora "Irene ri", e só nós sabemos porquê. Afinal, o revés é severo. A dica ácida dos que vêem a educação como mera reprodução de modelos é inevitável. Assim, professora e alunos descobriram nessa divertida viagem que palíndromo é um eco doce, que salta o Atlas, que orar é verbo breve, raro, e que Metáfora farofa tem. Nesse jogo não se avista a torre da derrota. Todos ganham. Que bom que a escola de hoje não mais ensina por cartilhas. Foi-se o tempo em que alunos tinham que repetir: a babá baba. Ato idiota. - E cito idiotice.

Enquanto em Brasília a mala nada na lama (É de Fred: "o poder fede"), os professores, esses artistas, ensinam a ralar a anilina para a ver cor e graça na educação. "Aí, Zé, opa!". Isso não é palíndromo, mas quase: é a poesia de brincar com as palavras, de dar vida às letras. Isso é mágica de Guimarães Rosa. Luz azul!

As palavras e expressões com destaques são palíndromos por isso podem ser lidas de trás para frente mantendo o mesmo sentido.

Artigo publicado no Caderno I Coluna "Opinião" . edição nº 6105 do Jornal de Uberaba, p. 02, no dia 30/01/2006. In: www.jornaldeuberaba.com.br

Ormezinda Maria Ribeiro- Aya é Doutora em Lingüística e Língua Portuguesa pela Unesp. aya_ribeiro@yahoo.com.br